sexta-feira, 5 de abril de 2013

Dieta Paleolítica: a volta aos hábitos alimentares das cavernas. Topa?


A “nova velha” dieta sugere uma pirâmide alimentar com base no consumo de proteínas magras, carboidratos de verduras, açúcares de frutas e gorduras de peixes e oleaginosas


Nos Estados Unidos não se fala em outra coisa. Quem testou diz que nunca viu nada igual. Polêmica, controversa, tema de documentário e alvo de muito zum-zum-zum entre especialistas, a Dieta Paleolítica propõe uma volta aos hábitos alimentares das cavernas e causa furor ao derrubar mitos da dita alimentação balanceada. Andréia Meneguete investiga. 
 

famosos (Foto: Getty Images)

Esqueça tudo o que você já ouviu falar sobre alimentação correta e balanceada. Apresentamos um novo conceito nutricional que vem fazendo muito barulho nos quatro cantos do planeta: a Dieta Paleolítica. O assunto, que já havia gerado bochicho (e angariado inúmeros discípulos nos EUA e na Europa) volta às manchetes com força total graças ao documentário The Perfect Human Diet, lançado em fevereiro e já disponível para compra na web.

A obra coloca o dedo numa ferida aberta na nossa sociedade: afinal, quais são as causas da obesidade que já atinge 10% da população mundial? A resposta, resumidamente: o que se “vende” como alimentação ideal é na verdade uma máquina de produzir acúmulo de gordura. Isso mesmo, você leu direito. 


Nesse contexto, a Dieta Paleo (como chamam os iniciados) vira uma espécie de messias ao propor o resgate da forma como o homem se alimentava no tempo em que era nômade, antes do advento da agricultura, há cerca de dois milhões de anos. “O corpo humano evoluiu para digerir os alimentos do planeta Terra de então. Isso ficou gravado em nosso DNA. Introduzir na dieta comidas inexistentes naquela época sobrecarrega o organismo, provocando um tipo de pane. A obesidade é uma das consequências”, afirma o jornalista americano Charles Hunter, produtor do documentário.

Trocando em miúdos, a “nova velha” dieta sugere uma pirâmide alimentar com base no alto consumo de proteínas magras, seguida por carboidratos provenientes de verduras, açúcares fornecidos pelas frutas e gorduras que vêm de peixes e oleaginosas. E, claro, muita água! Até aqui nada de muito revolucionário, certo? O xis da questão está no que os especialistas apontam como os grandes inimigos da saúde: leite e derivados, grãos, cereais, carboidratos simples, alimentos processados e tubérculos como a batata, que tem alto índice glicêmico.


A explicação é simples: ao detectar algo desconhecido, o organismo trabalha para combatê-lo, mas o excesso de resíduos causa distúrbios, inflamações e doenças. O que seu pão integral e margarina têm a ver com isso? Tudo! O glúten, uma proteína do trigo (que não existia na Pré-História), presente em vários alimentos industrializados, não é 100% digerido quando bate no estômago, transformando-se numa goma que gruda na tireoide. Resultado? O corpo reconhece aquilo como um invasor e tenta eliminá-lo, deixando as funções tireoidianas (alô, metabolismo!) mais lentas. Isso significa uma boa dose de gordura a mais acumulada ao longo do tempo.


dieta paleolítica (Foto: Shutterstock)
Bebendo o inimigo

Para a nutricionista funcional Fernanda Granja, de São Paulo, a controversa proposta alimentar é coerente. “É fato: o organismo sofre agressão com o consumo de alimentos processados ou que foram transformados pelo homem”, diz, categórica. O leite que consumimos hoje, por exemplo, ao ser maturado e pasteurizado, perde a vitamina D, elemento essencial para se absorver o cálcio. “Sem essa vitamina, favorece-se o excesso de cálcio no intestino, o que gera um grande desequilíbrio interno. Alergias e inflamações são inevitáveis”, explica.


Vale o dado: o homem é a única espécie que consome leite (e ainda por cima de outro animal) na fase adulta. Como conseguir cálcio de forma genuína? em alimentos
frescos e verde-escuros, como espinafre, brócolis e couve.


Os paleolíticos não param por aí. Jogam pedra em dietas 100% vegetarianas por serem deficientes em vitamina B12, encontrada somente em carne animal e essencial para a formação do sangue; e fazem campanha para o consumo de gorduras boas. “Fala-se dos efeitos negativos da gordura, mas as gorduras ‘do mal’ são as fabricadas pelo homem, que vêm enlatadas. Gorduras como ômega 3, 6 e 9, encontradas nos peixes, são essenciais para o cérebro atuar bem”, salienta Fernanda. A nutricionista garante ainda que os benefícios da Dieta Paleolítica vão bem além de um corpo em forma. “Ela traz bom humor, disposição, intestino tinindo e pele reluzente.”


É a salvação? Hum, menos

Diante de um mal que mata cerca de três milhões de pessoas por ano, alguns especialistas se mostram reticentes sobre qualquer coisa apontada como milagrosa. “A obesidade é uma doença e deve ser tratada com seriedade, não pode ser encarada como um estilo de vida”, afirma o vice-presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica), João Eduardo Salles.

O endocrinologista Filippo Pedrinola também é cauteloso: “A Dieta Paleolítica tem uma proposta interessante, mas não é a salvação. Como todas as dietas, não é solução definitiva se não houver bons hábitos e qualidade de vida.” É, não tem segredo: além da alimentação, vale imitar nossos ancestrais em outros quesitos. Que tal se mexer para alcançar frutas mais suculentas e fortalecer os músculos para ser mais forte que a caça? E comida, meu bem, só para matar a fome! 

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